Em função das pesquisas e recentes investimentos em carros autônomos (além das empresas de tecnologia como Google, Tesla e Apple, os fabricantes tradicionais como Daimler, Audi Ford e Toyota também estão investindo em pesquisas nessa área), há quem visualize um risco no futuro de um colapso na indústria de seguros de automóvel, por conta de um mundo sem acidentes (como já citado pelo consultor Francisco Galiza, embasado por estudos da Mckinsey e Rand Corporation). Porém uma recente estatística e a dificuldade, por exemplo da Google conseguir seguro de Responsabilidade Civil para seu veiculo autônomo, demonstram que ainda haverá um grande caminho no desenvolvimento destes veículos e que o fator humano (e a imprevisibilidade deste) é ainda um componente impossível de ser imitado.
Fato aparentemente abafado até o momento, e divulgado recentemente através de um trabalho acadêmico da Universidade de Michigan, é que os carros totalmente autônomos sofrem atualmente 2 vezes mais colisões que os carros normais, conforme matéria de Keith Naughton, da Bloomberg.
Ainda que os acidentes tenham ocorrido em interação com outros veículos normais e sempre por culpa do outro veículo, o estudo demonstrou que ainda existe uma enorme dificuldade destes veículos preverem a reação dos outros motoristas. Outro fator "complicador" seria o destes veículos sempre seguirem as leis, sem qualquer exceção, ou seja, os mesmos tem dificuldade em se adaptar as situações e ao comportamento de outros motoristas.
Conforme já havia iniciado o debate em outro post, temos varias questões que pairam sobre o tema e que merecem estudos para podemos saber se realmente podemos contar com uma redução no índice de acidentes ou mesmo o sonhado fim destes (o que em termos de ganhos pela sociedade seria algo sem precedentes):
1) No caso dos veículos semi-autônomos, com sistemas de frenagem automática entre outras, se estes sistemas não deixarão os motoristas mais distraídos e relaxados ao volante (como teclando ao celular), o que pode resultar em mais acidentes - não menos, como prometido por estes sistemas. Essa é uma das teses atualmente defendidas pela Google, a qual tem sido contrária ao desenvolvimento destes sistemas e tem defendido ardorosamente o desenvolvimento de veículos totalmente autônomos. Parece fazer sentido uma vez que seus veículos se envolveram até agora em 17 acidentes causados por outros motoristas/veículos normais (média de 1 acidente a cada 188 mil km rodados), logo a solução racional parece ser a eliminação dos outros veículos/motoristas (mas o que por si só é totalmente absurdo e absolutamente improvável, ou seja, a Google parece estar apostando em algo surreal: um mundo totalmente sem motoristas). Criar vias especificas para esse tipo de veículo também parece ser surreal, pois nesse sentido sistemas já existentes como o metroviário poderiam ser muito mais eficientes.
2) Se estas pesquisas no desenvolvimento de carros totalmente autônomos não terão desfecho como as realizadas em torno dos carros elétricos nas últimas duas décadas, onde, apesar de grandes avanços e da tecnologia ser perfeitamente viável, até o momento a tecnologia não se converteu em realidade nas ruas e produtos de massa (ao menos nas ruas brasileiras e de muitos outros países). Alguns podem citar exemplos bem sucedidos como o Toyota Prius, mas logicamente estamos falando em um produto de nicho (e na verdade hibrido, ou seja, ainda usa gasolina) e algo ainda longe de se transformar em um produto de massa
3) No caso do carro totalmente autônomo se o motorista quer mesmo esse tipo automação e se não haverá preconceito, basta pensar que no Brasil muitos motoristas tem resistência até a um câmbio automático, que para alguns tiraria parte da esportividade e do prazer ao dirigir.... Essa parece ser a tendência de grande parte dos fãs e entusiastas de automóveis, e não podemos descartar o poder e a opinião que estas pessoas possuem sobre a indústria
Humanos batem nos carros autônomos e revelam falha crucial
Divulgação/Google
Carro autônomo do Google: será deveriam ensinar os carros a cometerem infrações de tempos em tempos para evitar problemas?
Keith Naughton, da Bloomberg
O carro autônomo, aquela criação de ponta que supostamente levaria a um mundo sem acidentes, está conseguindo exatamente o oposto no momento: os veículos acumulam uma taxa de acidentes duas vezes maior que a dos motoristas humanos.
A falha?
Eles obedecem a lei o tempo todo, ou seja, sem exceção. Esta pode parecer a melhor forma de programar um robô para dirigir um carro, mas boa sorte para tentar isso em uma rodovia caótica e engarrafada com o trânsito fluindo bem acima do limite de velocidade.
Isso tende a não funcionar bem. Como os acidentes se acumularam -- todos arranhões de menor importância, por enquanto --, um argumento está ganhando força entre os programadores da Google Inc. e da Universidade Carnegie Mellon, entre outros: será que eles deveriam ensinar os carros a cometerem infrações de tempos em tempos para evitar problemas?
“Esse é um debate constante dentro do nosso grupo”, disse Raj Rajkumar, codiretor do laboratório de pesquisa colaborativa sobre direção autônoma General Motors-Carnegie Mellon, em Pittsburgh. “Basicamente decidimos respeitar o limite de velocidade. Mas quando você sai e dirige no limite de velocidade na estrada, praticamente todos pelo caminho passam voando por você. E eu seria uma dessas pessoas”.
No ano passado, Rajkumar ofereceu test drives a membros do Congresso no SUV Cadillac SRX autônomo de seu laboratório. O Cadillac teve um desempenho perfeito, exceto quando teve de pegar a rodovia interestadual 395 e atravessar três pistas de tráfego em 137 metros para se dirigir ao Pentágono.
As câmeras e os sensores de laser do carro detectaram o trânsito em uma visão de 360 graus, mas não souberam como confiar que os motoristas abririam espaço em meio ao tráfego incessante, por isso o cérebro humano teve que assumir o controle para completar a manobra.
“Nós acabamos sendo cautelosos”, disse Rajkumar. “Não queremos nos envolver em um acidente porque isso seria notícia de primeira página. As pessoas esperam mais dos carros autônomos”.
Sem culpa
Ocorre que suas taxas de acidentes são duas vezes mais elevadas que as dos carros normais, segundo um estudo do Instituto de Pesquisa em Transporte da Universidade de Michigan, em Ann Arbor, Michigan.
Os veículos autônomos nunca tiveram culpa, apontou o estudo: eles normalmente são atingidos por trás em acidentes a baixas velocidades por humanos desatentos ou agressivos desacostumados aos motoristas-robôs que sempre seguem as regras e procedem com cautela.
O governo da Califórnia está exigindo cautela no emprego de carros autônomos. O estado americano publicou nesta semana uma proposta de regramento que exigiria que sempre haja um humano pronto para assumir o volante e também obriga as empresas criadoras dos carros a emitirem relatórios mensais sobre o comportamento deles.
A Google -- que desenvolveu um modelo sem volante, nem pedal de acelerador -- disse que está “muito desapontada” com as regras propostas, que poderiam estabelecer o padrão para as regras dos carros autônomos nos EUA.
Os carros da Google se envolveram em 17 acidentes de menor importância em 3,2 milhões de quilômetros de testes e respondem pela maior parte dos acidentes reportados, segundo o estudo da Universidade de Michigan.
Isso se deve, em parte, ao fato de a empresa estar realizando testes principalmente na Califórnia, onde os acidentes envolvendo carros autônomos precisam ser reportados.
O incidente mais recente reportado ocorreu em 2 de novembro em Mountain View, na Califórnia, onde fica a sede da Google, quando um SUV Google Lexus autônomo tentou virar à direita com o farol vermelho.
O carro parou completamente, ativou o pisca-pisca e começou a se arrastar lentamente até a intersecção para ter uma visão melhor, segundo um relatório que a empresa postou on-line.
Outro carro parou atrás e também começou a andar para a frente, colidindo com o SUV a 6 km/h. Não houve feridos, apenas pequenos danos em ambos veículos.
Carro-robô é parado
Dez dias depois, um policial de moto de Mountain View notou que o trânsito estava se acumulando atrás de um carro da Google que trafegava a 24 milhas por hora (38 km/h) em uma zona com limite de velocidade de 35 milhas por hora (56 km/h).
Ele se aproximou e se tornou o primeiro policial a parar um carro-robô.
Ele não emitiu multa -- a quem a entregaria? --, mas alertou os dois engenheiros que estavam a bordo a respeito do perigo que estavam criando.
“A coisa certa seria que esse carro abrisse caminho, permitisse que o trânsito fluísse e depois retornasse para a pista”, disse o sargento Saul Jaeger, chefe da unidade de trânsito do departamento de polícia.
“Eu gosto quando as pessoas erram para o lado da cautela. Mas é possível que algo seja cauteloso demais? Sim, é possível”.